Agência Brasil
O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca)
manifestou-se hoje (8) contra o modo como os agrotóxicos são utilizados
no Brasil e recomendou a redução do uso desses produtos. Em um documento
de cinco páginas, o instituto ressaltou os riscos dessas substâncias
para a saúde e para a incidência de câncer.
"O modelo de cultivo
com o intensivo uso de agrotóxicos gera malefícios, como poluição
ambiental e intoxicação de trabalhadores e da população em geral", diz o
documento, que, além de apontar as intoxicações causadas imediatamente
após a exposição [ao produto], enumera efeitos que aparecem após anos de
exposição. "Dentre os efeitos associados à exposição crônica a
ingredientes ativos agrotóxicos podem ser citados infertilidade,
impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação
hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer."
A
recomendação do instituto é que se adote "a redução progressiva e
sustentada do uso de agrotóxicos", prevista no Programa Nacional de
Redução de do Uso de Agrotóxicos e a produção agroecológica, segundo a
Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica.
O documento do Inca explica que a presença de agrotóxicos não se restringe a produtos in natura,
como legumes e verduras, existe também em alimentos industrializados
com ingredientes como trigo, milho e soja. "A preocupação com
agrotóxicos não pode significar a redução do consumo de frutas, legumes e
verduras, que são fundamentais em uma alimentação saudável e de grande
importância na prevenção do câncer."
O coordenador de Ensino do
Inca, Luis Felipe Pinto, disse que o Brasil é o país para o qual a
discussão é mais importante, já que é o principal consumidor de
agrotóxicos do mundo e tem forte contribuição da agricultura em sua
economia. Segundo ele, o Inca não faz isso por "achismo" ou por questão
ideológica. "Segue as evidências cientificas, fruto do trabalho de sua
equipe e de cientistas no mundo inteiro."
Pinto justifica o
alerta afirmando também que a Organização Mundial da Saúde e o Inca
prevêem que, em 2020, o câncer se torne a principal causa de morte no
Brasil. Para ele, os efeitos do aumento do uso de agrotóxicos nos
últimos anos devem se refletir em ainda mais casos da doença em 15 ou 20
anos: "Houve uma explosão de pesticidas. Em dez anos, subiu oito vezes e
meia o gasto econômico [com agrotóxicos], o que é um indicador disso."
Para
o produtor orgânico Alcimar do Espírito Santo, há grande interesse dos
agricultores em mudar sua produção para orgânica, mas hesitações
econômicas ainda são um entrave. "Há toda uma cultura da agricultura
convencional, em que eles já estão acostumados com seus compradores",
disse ele. Alcimar classificou a transição difícil, porque a terra que
recebia pesticidas e fertilizantes precisa "descansar" por um tempo para
produzir produtos livres dessas substâncias.
O nutricionista do
Inca Fábio Gomes destacou que a população que trabalha no campo é a mais
afetada pelos agrotóxicos e disse que o consumidor deve incentivar a
economia orgânica. "É preciso valorizar os produtos orgânicos. E também
interferir e sugerir aos legisladores e tomadores de decisão para que
eles valorizem a produção de alimentos livres de agrotóxicos, inclusive
encarecendo a produção dos demais itens."
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