sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Bandido bom é bandido rico

Jornal do Brasil (compartilhamento)
Walmyr Junior

Os acontecimentos dessa semana, referente à prisão do ricaço Eike Batista, revelam para nós a falta de coerência de uma parcela da população brasileira. Sabemos bem que pessoas de diferentes classes sociais cometem os mesmos crimes, mas por que recebem tratamentos diferentes? Sabemos que é só um jovem negro ou pobre roubar um celular e rapidamente estará ele amarrado a um poste, agredido ou morto.
Não quero entrar no mérito de debater se o Eike é ou não é culpado, se ele teve informações privilegiadas, se realmente corrompeu o sistema, se colaborou com desvio de verba, se sonegou ou pagou propina para burlar os editais do governo do Estado. O que quero debater é sobre a incoerência do povo que tira foto, se exibindo ao lado do bilionário, que faz campanha no Facebook em apoio ao mesmo, que o aplaude pelos seus feitos em apoio financeiro ao Governo durante o mandato do também encarcerado Sérgio Cabral. Se ele é culpado ou não, não cabe a mim descobrir nem julgar. Porém, é curioso uma pessoa ser julgada por crimes que envolvem desvio de bilhões e receber tanto carinho da população.
Lembro que recentemente viralizou nas redes sociais algumas imagens que retratavam como os veículos de comunicação diferenciam crimes cometidos por pessoas negras e pobres e por pessoas ricas ou da classe média. Quem não lembra da matéria postada pelo G1 com o título “Polícia prende jovens de classe média com 300kg de maconha no Rio”. Para um jornalista não chamar de bandido ou traficante um indivíduo da classe média que foi preso por tráfico de 300 kg, fico até esperançoso de achar que pode ser um ato de abolicionismo penal, valor que eu defendo e o pratico. Porém, o que fica ao ler matérias com esse recorte é a certeza do racismo, preconceito e má-fé. 
O debate fica em torno dos pesos e medidas de um sistema social falido. É nítido que pessoas de diferentes classes econômicas cometendo os mesmos crimes recebem tratamentos diferentes. Não esqueçamos do brasileiro, jogador de futebol do Barcelona, que foi acusado de sonegar milhões e foi saudado por seus milhões de fãs em seu julgamento.
O caso do Eike não é diferente. Diferente é o caso dos milhares de jovens pobres e negros que são abandonados no sistema penitenciário. Um mecanismo de ressocialização que só muda para pior a vida do detento. Celas lotadas, insalubridade, comida estragada e o total descaso, é o que não encontrará em Bangu o senhor Eike. O mesmo já possui cela individual, levou seu travesseiro para a cadeia e com certeza, as outras regalias chegarão acompanhadas da corrupção do sistema. 
* Walmyr Junior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ

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