Folha Política
Quatro
delatores da Operação Lava-Jato confirmaram em depoimento à Justiça
Federal do Paraná nesta segunda-feira a participação de executivos da
Odebrecht no cartel da Petrobras e no pagamento de propinas revelados
pela Lava-Jato. Foram ouvidas, na audiência, quatro testemunhas de
acusação no processo que investiga a participação da Odebrecht no
esquema.
Júlio Camargo,
que prestou serviços para a japonesa Toyo, para a Camargo Corrêa e para a
Setal Óleo e Gás, afirmou ter negociado pagamento de propina com Renato
Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, numa reunião ao lado de
Márcio Faria, da Odebrecht, e de Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia. Os
valores estariam relacionados às obras da central de utilidades do
Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
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As três
empresas formavam um consórcio, e Camargo contou que foi negociado o
pagamento de 1% do valor do contrato e que a “liquidação dos valores”
ficou a cargo de Faria e Pessoa. Segundo ele, não havia qualquer pressão
ou ameaça para que a propina fosse paga, já que era algo corriqueiro,
um “fato consumado”.
— Ficou uma coisa de saber público — disse Camargo.
O delator
Rafael Ângulo Lopez, que trabalhou para o doleiro Alberto Youssef,
confirmou à Justiça ter estado entre 10 e 15 vezes no escritório da
Odebrecht em São Paulo, levando número de contas ou retirando
comprovantes de depósitos no exterior com o então executivo da empresa
Alexandrino Alencar. Segundo ele, as visitas ocorreram tanto no prédio
da empreiteira quanto no da Braskem, empresa do setor petroquímico, já
que Alencar trabalhou, ao longo de sua carreira no grupo, nas duas
empresas.
Lopez afirmou
ainda que Youssef e Alencar costumavam se reunir com frequência, em
flats e restaurantes. A defesa de Alencar protestou. Segundo os
advogados, apenas um dos 23 depoimentos prestados à Justiça por Lopez
foi anexado ao processo da Odebrecht.
O executivo
Dalton Avancini, que foi presidente da divisão de Engenharia e
Construção da Camargo Corrêa, disse que participou de “quatro ou cinco”
reuniões com os líderes de outras empreiteiras para discutir o que ele
chamou de “divisão de mercado dessas empresas”. De acordo com ele,
nessas reuniões as empresas combinavam quem venceria cada licitação e
qual seria o valor das propostas que seriam propositadamente derrotadas.
Os
representantes da Odebrecht no cartel eram, segundo Avancini, os
diretores Márcio Faria e Renato Rodrigues. O juiz Sérgio Moro perguntou
se os executivos da Odebrecht tinham autonomia para tomar decisões sobre
a divisão das licitações e o pagamento de propina ou se precisavam
discutir com alguém com cargo mais elevado na empresa. Avancini
respondeu que Faria tinha autonomia para tomar as decisões.
Avancini também
mencionou outro diretor da Odebrecht em seu depoimento: Paulo Sérgio
Boghossian. Segundo o presidente da Camargo, Boghossian foi responsável
por pagar propina para a Petrobras liberar aditivos em um contrato para
obras em um prédio da estatal em Vitória.
Segundo ele, era comum entre os executivos falar sobre o pagamento de propinas quando se encontravam:
— Em conversas
com outros executivos, genericamente sempre se falava (em pagamento de
propina). Nessas reuniões certamente sim, que haviam compromissos com
diretorias, e que empresas tinham que pagar (propina).
Procurada, a
Odebrecht informou que “as manifestações das defesas do executivo e dos
ex-executivos da Odebrecht se darão nos autos do processo.”
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FUNCIONAMENTO DO CLUBE
O empresário
Augusto Ribeiro Mendonça Neto, da Setal, deu detalhes do chamado “Clube
das 16”. As empreiteiras, segundo ele, pagavam propinas de 1 a 2% dos
valores dos contratos nas diretorias de Abastecimento, do ex-diretor
Paulo Roberto Costa, e de Serviços, do ex-diretor Renato Duque.
Segundo ele, a
organização do clube começou entre os anos de 2004 e 2005 e que tudo
funcionava bem até o início das obras da Refinaria de Abreu e Lima,
quando houve um desentendimento entre as empreiteiras. As grandes
construtoras, conforme disse Augusto Mendonça Neto, ficaram com as
grandes obras da refinaria, deixando as pequenas fora da competição, o
que deixou várias companhias descontentes.
Mendonça Neto
disse que pagava propinas na diretoria de Abastecimento ao ex-diretor
Paulo Roberto Costa, por intermédio do então deputado José Janene, morto
em 2010, revelando que sofreu ameaças. Ele também contou que pagou
propinas no exterior para Renato Duque e Pedro Barusco.
— Janene era
truculento e sofri ameaças dele. Ele dizia que se não pagasse as
propinas, não teria obras na Petrobras. Na diretoria de Serviços, as
ameaças de Renato Duque e Pedro Barusco eram diferentes. Eles diziam que
se não pagássemos, não teríamos as obras. Os diretores poderia
atrapalhar os contratos.
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